Biodiversidade noturna da cidade de Chaves
A biodiversidade das cidades tem várias
dimensões, entre as quais a fauna noturna, tradicionalmente menos estudada e
conhecida, nomeadamente pela população. Para colmatar essa circunstância, em
linha com o City Nature Challenge 2025, realizou-se na cidade de Chaves uma atividade para aprofundar o conhecimento da fauna noturna urbana,
promovida pelo Grupo Galego-Transmontano da associação Ecologistas Galiza Atlântica e Verde, com o apoio do canal de divulgação ambiental Alto Tâmega
Selvagem (https://www.youtube.com/@altotamegaselvagem2769/videos)
e do Projeto Lunária (https://www.facebook.com/profile.php?id=61575317553383),
contando com a colaboração especializada dos peritos Paulo Barros (especialista
em morcegos) e Ana Ferreira (especialista em borboletas).
O programa incluiu o registo da ocorrência de espécies de morcegos em 5 quadrículas (300 x 400 m) da malha urbana de Chaves, com recurso a seguidores/gravadores de ultrassons. Igualmente, durante o período noturno, foi feita a amostragem de morcegos (pelo método de captura e posterior libertação no próprio local), bem como amostragem de borboletas e de outros insetos noturnos.
Apesar das condições climatéricas terem
sido um pouco desfavoráveis (vento moderado e por vezes intenso), conseguiu-se,
ainda assim, o registo de 8 espécies de morcegos (cerca de 1/3 do total de espécies
existentes em Portugal Continental [1]),
das quais se destaca a Plecotus austriacus, dado o seu estatuto de
conservação mais sensível, estando classificada no Livro Vermelho como Quase
Ameaçado (NT) e que foi confirmada em 2 das quadrículas amostradas.
Igualmente meritória de nota, a
ocorrência de Nyctalus leisleri, espécie arborícola, reforçando a
importância dos espaços urbanos arborizados e das galerias ripícolas autóctones,
para a conservação deste grupo de fauna selvagem. Também a Myotis daubentonii deve ser destacada, pois
de acordo com o Atlas dos Morcegos de Portugal Continental [2] é uma espécie fortemente associada a
habitats aquáticos, como lagos ou linhas de água,
alimentando-se quase exclusivamente de insetos pousados ou a sobrevoar os
planos de água, podendo também caçar em áreas florestadas e pomares.
Em colaboração com o Projeto Lunária, a
amostragem de borboletas noturnas, confirmou a presença de 12 espécies, das
quais 11 não estavam listadas para a zona na avaliação da biodiversidade urbana
de Chaves, recentemente efetuada [3]. Destacamos as espécies Tethea
ocularis, fortemente associada a bosques de folhosas e que atua como
bioindicadora de ecossistemas preservados e Eudonia angustea que habita
zonas húmidas e margens de cursos de água, como o rio Tâmega, dependendo
especificamente de micro-habitat com musgos e líquenes, onde as suas larvas se
desenvolvem.
Deste evento, participado por cerca de 25 pessoas (incluindo várias crianças em idade escolar),
de Portugal e da Galiza, ficou evidente a importância do estudo e divulgação dos
valores ambientais existentes em espaços urbanos e a intenção de replicar e
alargar atividades de ciência cidadã nesta região.
Referências:
[1] Barros, P. (2012). Contribución al conocimiento de la distribución de quirópteros en el norte y centro de Portugal. Barbastella 5 (1): 19-31. http://dx.doi.org/10.14709/BarbJ.5.1.2012.04
[2] ICNF (2024). Atlas de Morcegos. https://sig.icnf.pt/portal/apps/mapviewer/index.html?layers=0d26526ca5b049a3a6e8da783f32fb9
[3] Fachada, M.A. (2024). Conservação da Biodiversidade Urbana: Contributos para a cidade de Chaves. Dissertação de Mestrado em Cidadania Ambiental e Participação. Universidade Aberta. 109pp.
Vídeo da atividade:
Ver o vídeo na conta de Youtube de Alto Tâmega Selvagem:
https://youtu.be/sdcBgwPTgCk?si=lCiP2eUsLvxqRrWn
Fotografias da atividade:
Colocaçao de métodos para captura científica de morcegos e borboletas noturnas: